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  • Fabiana de Luna e Gustavo Nilson

Ter diabetes e morar nos Estados Unidos - Parte 2

DIABETES E VIAGENS - NÃO TENHA MEDO DE MUDANÇAS!


Há algum tempo iniciamos aqui uma série de entrevistas com brasileiros que vivem no exterior, e como levam a vida e o tratamento por lá.


Uma das maiores dúvidas é em relação aos Estados Unidos, um local muito procurado para estudos e intercâmbios.


Dentre a maioria dos países, o tratamento nos EUA é um dos mais "inacessíveis", uma vez que não existe um sistema de saúde público que seja "gratuito", como o SUS. Além disso, os valores dos medicamentos são extremamente elevados, o que tem gerado uma grande campanha a favor da redução dos custos.


Pensando nisso, meu amigo Gustavo escreveu, com mais detalhes, como é a questão dos planos de saúde nos EUA.

Para quem está pensando em se mudar, talvez este texto ajude a clarear as ideias, e facilitem a busca para que se tenha tudo organizado e planejado antes de ir!


Aproveitem!


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Minha batalha com o diabete e o sistema de saúde nos Estados Unidos

Há 9 anos, aceitei um desafio nada pequeno: mudar de casa, de amigos, de país,tudo por uma vontade de me conhecer melhor e “me virar sozinho”.

Além de todas as dificuldades que essa mudança apresenta, a minha velha amiga diabete mudou junto comigo e isso apresentou um outro desafio: encontrar um médico que fizesse o meu acompanhamento, me adaptar a novos remédios e procedimentos.


Grande parte da dificuldade é o sistema de saúde daqui que não é nada igual ao do Brasil. Para começo de conversa, ele é TOTALMENTE PRIVADO. Não existe hospital público, não existe posto de saúde do município. Não que isso seja bom ou ruim, mas é diferente. Também é diferente como me relaciono com minha doença crônica, meus médicos e meus medicamentos.


Como todo o sistema é privado, qualquer consulta, qualquer exame será cobrado. A conta chegará! A grande questão é se você pagará ou se algum plano de saúde pagará. Isso é válido para a farmácia também onde nada é vendido sem receita.


Planos de saúde existem tanto quanto ou mais que no Brasil. Caso você vá ao varejo (entrar pela porta de uma seguradora e dizer “quero um seguro-saúde”), descobrirá que NENHUM plano de saúde aceita doenças pré-existentes. Infelizmente o mundo é injusto. Agora, caso você trabalhe para uma empresa que use um plano de saúde em comum para todos os funcionários (que é o caso de 95% de todas as empresas por aqui), ela irá cobrir sem problema qualquer condição que você já tenha.

Vamos considerar que você entre no segundo caso: sua empresa oferece um plano de saúde. Você terá, como no Brasil, médicos conveniados e outros não. Exames que são cobertos e outros que não são.


Vamos aos fatos? Como funciona então, Gustavo, essa joça?


Vamos definir algumas palavras que vou usar daqui para baixo:


Copayment (Copay) - O valor pago a um profissional de saúde no momento em que você recebe serviços. Talvez você precise pagar um copay por cada visita coberta ao seu médico, dependendo do seu plano. Nem todos os planos têm copay. $20 dólares no meu caso


Deductible - O valor que você paga pelos seus serviços de saúde antes de sua seguradora pagar. As franquias são baseadas no seu período de benefício (normalmente um ano de cada vez). $2000 dólares no meu caso

Exemplo: se o seu plano tiver uma franquia anual de US$ 2.000, você deverá pagar os primeiros US$ 2.000 em seus serviços de saúde. Depois de atingir US$ 2.000, sua seguradora de saúde cobrirá o restante dos custos.

No meu tipo de plano, chamado de PPO (preferred provider organization ou “organização provedor preferencial”), eu pago um valor fixo por mês para mim e minha família. Esse valor vem descontado do meu pagamento automaticamente. Quando eu visitar meu médico pago um valor fixo ($20) de copay, independente da especialidade. Veja bem que o copay só é aplicável quando você visitar um médico. Procedimentos são cobertos sob o “deductible”. Exame de sangue: deductible, exame de fundo de retina: deductible, teste ergométrico: deductible e por aí vai...


O que eu acho ótimo do meu plano é isso aqui:




Monitores de glicose (dexcom, Libre, etc...), dispositivos de infusão e bombas de insulina (incluindo os insumos) tem custo zero para mim! :) Acabaram as cânulas? Ligo para o fabricante, esse fabricante envia a conta para o plano (o necessário para 90 dias custou $516.68). Os sensores do monitor de glicose acabaram? Ligo para o fabricante, esse fabricante envia a conta para o plano (o necessário para 90 dias custou $1,197.90). Uma bomba de insulina nova (o plano aprova a mudança a cada 4 anos)? Mesma coisa.


Agora, esse é o meu plano. Outros planos têm cobertura diferente: Conheço alguns onde todas as visitas médicas e procedimentos entram primeiro pelo deductible (alguns planos podem ter deductibles de $5000 ou $7500) e só depois os copays começam a valer. Ou seja: eu já teria gasto mais de $1700 dólares só com os insumos da bomba mais os sensores do monitor de glicemia.


A alguns meses atrás precisei fazer 2 procedimentos em hospitais: uma endoscopia e uma cirurgia de grande porte. Resultado:

Endoscopia










Cirurgia de grande porte









Veja o custo total (claim total): $19128,93 (ou mais de R$103.000,00 na cotação de hoje) por uma endoscopia e $57248,33 (ou mais de R$308.000,00) por uma cirurgia mais complexa. E isso é só o valor que os hospitais cobraram, fora os médicos, anestesistas, etc...


Aí você me pergunta: Gustavo, como é que os hospitais cobraram isso tudo e você não pagou nada (You pay: $0.00)? Por conta do deductible, que já atingi meu teto de gastos para 2020. De agora até dezembro, todos os procedimentos são sem custos.


Esse é o lado complexo, burocrático e caro da medicina nos Estados Unidos. Se por um lado é muito eficiente e moderno, por outro é extremamente caro e complexo. Não é à toa que despesas médicas são a causa número 1 de pedidos de falência por aqui.


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Então pessoal,

Super úteis estas dicas, não acham?


É sempre possível se mudar para um outro país, mas é muito importante haver planejamento para não passar por dificuldades!

Lembrando que, mesmo que o sistema de saúde do local seja gratuito, normalmente só atende a pessoas residentes, ou seja, não adianta estar em itercâmbio ou viajem de curta duração. Para estes casos existem os seguros viagem/saúde que podem ser contratados daqui mesmo do Brasil, e o MEU conselho é que se leve TODOS os insumos para viagens de até 6 meses, com alguma sobra, para que não haja perrengue!


Tem mais algum país que você tem curiosidade de saber mais? Escreva pra gente!



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